segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

31 de janeiro de 1981

"Um leitor enviou-me o seguinte pedindo para o publicar, mas com a condição de manter o seu anonimato. Sem problemas, aqui está:"

31 de Janeiro de 1981


Data que simboliza o levantamento militar no Porto, provocado por decisões da Coroa e do Governo da época, não consentâneas com a defesa dos interesses nacionais, na conhecida questão africana, conhecida pelo Mapa Cor – de – Rosa.

Esta revolta militar, apoiada em força pela maioria da população do Porto, acabou mesmo por efectuar, pela primeira vez em Portugal, a proclamação da Implantação da República, pela voz do Dr. Alves da Veiga, em frente ao antigo edifício da Câmara Municipal do Porto.

Tal implantação acabou abortada, com a derrota imposta aos revoltosos por forças militares, que se mantiveram fiéis à Coroa e Governo vigente à época.

O sacrifício da própria vida, por alguns, a prisão de muitos, condenados com a pena de degredo para as colónias africanas acabou por alimentar o Ideal Republicano e foi determinante para o futuro 5 de Outubro de 1910, data essa em que Implantação e a Proclamação da República se deu definitivamente.

A República que este ano festeja o seu 100º Aniversário, teve como seu primeiro Presidente, Manuel de Arriaga e são dele as seguintes palavras, ao fazer o balanço do seu mandato e dos objectivos, que o nortearam:

- “A nossa aspiração foi sempre reunir a Família Portuguesa, sem distinção de confissões, de seitas e de partidos, em volta da Pátria, visto a Nação achar-se na posse da sua própria soberania com a Proclamação da República”.

Cerca de um século depois, outro defensor dos ideais republicanos, na sua intervenção nas Cerimónias das Comemorações dos 97 anos da Proclamação da República, Presidente Professor Dr. Cavaco Silva, profere as seguintes palavras, em dado momento do seu discurso:

-“Referi também, há precisamente um ano, neste mesmo lugar, os ideais cívicos do Republicanismo, enaltecendo a dimensão ética da cultura republicana e as exigências daí decorrentes, nomeadamente no que respeita à responsabilização dos titulares de cargos políticos e ao combate à corrupção”.

Prossegue o Presidente da República, mais à frente no seu discurso, com as seguintes palavras:

- “Apelo a que os Senhores Deputados aprofundem o esforço já empreendido para concretizar, no plano legislativo, o ideal republicano de uma maior transparência da vida pública”

Afinal, parece que tais palavras nunca foram escutadas cá no nosso burgo ou, se tal aconteceu, foram rapidamente esquecidas, em especial por quem tem grandes responsabilidades políticas.

É doloroso viver numa sociedade que se diz defensora dos direitos e deveres democráticos e verificar que no nosso léxico se vulgarizaram e desvalorizaram palavras como, corrupção, transparência, ética, honra, civismo, cidadania, etc. .

Tudo e todos se transfiguram na prática política, esquecendo facilmente os ideais republicanos, em defesa de interesses pessoais, familiares, partidários ou pelo menos com a capa de partidários.

Surgem e proliferam os que se dizem paladinos desses ideais, mas realmente o que acontece, o que se conclui das suas práticas, é a mera defesa de mesquinhos interesses pessoais, alguns deles só destinados a alimentar os seus enormes egos.

E por hoje, ….

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