Até à segunda metade do século XII, a história deste Mosteiro está envolta em lendas e atribuições duvidosas. De acordo com antigas crónicas, existia uma inscrição de 1035, associada ao sarcófago do bispo portuense D. Sisnando, cujos restos mortais foram trasladados para a parede Sul do templo em 1142, por ordem de D. Pedro Rabaldes, outro prelado do Porto. No entanto, quer a indicação de 1035, quer a de 1142 (data que algumas crónicas indicam ter estado epigrafada numa pintura mural no local do túmulo) são de existência duvidosa e não podem ser aceites sem reserva.
A igreja que hoje subsiste data dos finais do século XII ou inícios do seguinte, à semelhança de uma grande parte do nosso Românico. Nessa altura, ter-se-á refeito integralmente o templo monacal, dotando-o de uma estrutura comum para a época, de nave única e capela-mor rectangular, esta última provavelmente abobadada e apresentando arcarias cegas no exterior.
É precisamente a existência de arcadas cegas – na fachada principal e não na capela-mor, esta entretanto muito adulterada – o principal motivo de interesse do edifício, uma vez que se trata de uma solução sem paralelo no nosso país. Conservam-se uma arcada inteira e o arranque de uma segunda, no lado Norte da fachada principal, sendo as aduelas decoradas por animais afrontados. A contextualização destas formas não é fácil e tem vindo a ser objecto de discussão. Parecem não restar grandes dúvidas acerca de uma ascendência francesa (eventualmente passando pela Galiza), mas a verdade é que encontramos aqui analogias com os primeiros ensaios românicos de Braga, de Rates e de Travanca, o que poderá recuar a datação do conjunto em mais de meio século.
Na Baixa Idade Média, vários foram os homens importantes que aqui se sepultaram. D. Júrio Geraldes, corregedor do rei para o entre-Douro-e-Minho, encomendou dois túmulos pela década de 60 do século XIV, um para si e outro para D. Nicolau Martins, que sucumbiu em 1348 à Peste Negra, realizações que se encontram, actualmente, inseridas em modernos arcossólios da parede Norte do corpo. Um terceiro túmulo, já do século XV e que se encontra adossado ao flanco exterior Sul, é de D. Salvado Pires.
As maiores transformações no conjunto ocorreram a partir da segunda metade do século XVII e até aos meados da centúria seguinte. Para além da radical transformação das áreas monacais, o templo foi objecto de uma vasta campanha de obras, onde se conta a refeitura quase integral da fachada principal (com novo portal e mais ampla iluminação) e a actualização estética do interior. A parte mais simbolicamente relevante foi tratada como uma igreja forrada a ouro, uma vez que o arco triunfal, o tecto da capela-mor e as paredes fundeiras da nave e capela foram revestidos por uma homogénea solução de talha dourada em associação a retábulos. Na parede Norte da nave ainda subsiste o púlpito e o varandim trapezoidal policromado, de onde os monges assistiam às cerimónias litúrgicas.
Ficam aqui algumas imagens da Igreja de Santa Maria de Vila Boa do Bispo antes da sua reabilitação
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